Apresentação

I CONGRESSO DA REDE INTERNACIONAL EM ESTUDOS CULTURAIS (RIEC):
Cartografias e Perspetivas de Futuro

O 1º Congresso da Rede Internacional em Estudos Culturais (RIEC), sob o tema “Cartografias e Perspetivas de Futuro”, pretende promover a elaboração de um conjunto de  cartografias dos Estudos Culturais, a partir do trabalho que tem decorrido nos últimos anos em 10 universidades de língua portuguesa espalhadas por quatro países, que compõem esta rede de estudos: Universidade de Aveiro (Portugal), Universidade de São Paulo (Brasil), Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), Universidade Federal do Pará (Brasil), Universidade Federal do Paraná (Brasil), Universidade Federal Fluminense (Brasil), Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro (Brasil), Instituto Superior Politécnico Independente (Angola), Universidade Cabo Verde (Cabo Verde) e Universidade Save (Moçambique).

Este primeiro congresso conta com docentes e investigadores especialistas na temática, na qualidade de representantes institucionais de cada universidade, possibilitando a partilha de diferentes perspetivas e formas pelas quais se compreendem e se expressam os Estudos Culturais. O congresso constitui, assim, a possibilidade de apresentar, em rede global, o que se tem investigado em Estudos Culturais, especificamente em países de língua portuguesa, desde o sul da Europa até àqueles países que se encontram abaixo da linha do equador.

Este evento terá como base um enfoque político e contra-hegemónico, que compreende desde epistemologias a teorias e práticas relativas à construção e visibilização do fazer científico do campo em contextos culturais diversos.

Os Estudos Culturais surgiram na Universidade de Birmingham-Inglaterra, na década de 1960. Este campo de estudos interdisciplinar, que se internacionalizou durante os anos 1980, territorializa-se e ‘culturaliza-se’, de acordo com as dinâmicas culturais de cada região, expressas nos seus discursos, saberes e práticas (Baptista, 2009; Hall, 2016; Mattelart & Neveu, 2004).

Independentemente da temática e da área em que as investigações em Estudos Culturais se realizam, um facto é comum aos estudos desenvolvidos nesse campo: apresentam um olhar e uma abordagem discursiva relacionados com a compreensão das questões que giram em torno das várias formas de poder e dos fenómenos de resistência que ele suscita (Hall, 2016).  Neles se evidenciam o dito e o não-dito, processos hegemónicos e contra-hegemónicos, a partir de realidades de grupos considerados excluídos ou que se encontram à margem das construções culturais e sociais relativas aos géneros, raças, classes, idades, entre outras categorizações culturais (Baptista, 2009).

No entanto, embora o fazer científico esteja atualmente num período de transformações paradigmáticas (Santos, 2010), ele ainda é fortemente marcado por práticas e saberes hegemónicos predominantemente disciplinares. Compreende-se, assim, que o principal desafio epistemológico desta área, na teoria como na prática, seja proceder à territorialização e institucionalização dos Estudos Culturais em contextos diversos – o que se tem declinado nas diversas formas pelas quais campo se tem constituído em termos institucionais, académicos e científicos. É o que vem ocorrendo em países de língua portuguesa.

É neste contexto de objetivos, realidades e desafios do campo muito diversos que buscamos compreender como, atualmente, se desenvolvem os Estudos Culturais em diferentes universidades de diferentes países de língua portuguesa.

Referências

Baptista, M. M. (2009). Estudos Culturais: o quê e o como da investigação. Carnets, Cultures littéraires: nouvelles performances et développement, (nº spécial, automne/hiver), 451-461.
Hall, S. (2016). Cultural Studies 1983: a theoretical history. J. D. Slack, & L. Grossberg (Ed.). Durham: Duke University Press.
Mattelart, A. & Neveu, E. (2004). Introdução aos Estudos Culturais. São Paulo: Parábola Editorial.
Santos, B. S. (2010). Um discurso sobre as ciências. Edições Afrontamento: Porto